ÚNICA Nº 1850 - 12 Abril 2008

Universidade aberta

A Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Nova abriu as portas a mais de 5000 estudantes do 10.º ao 12.º ano. A invasão do ‘campus’ percorreu todos os pavilhões, povoados por experiências incríveis

Às 10 horas de sexta-feira 4 de Abril, na Faculdade de Ciência e Tecnologia do Monte da Caparica, os sacos azuis estavam por todo o lado. A oferta, multiplicada por 5000 alunos, dava nova cor ao «campus» universitário. Pelos vários pavilhões do complexo de 30 hectares, em bancas das várias especialidades - Física, Química, Biologia, Engenharia Ambiente, Mecânica ou Informática - demonstravam-se experiências a uma plateia de alunos interessados, nem que fosse em colar os autocolantes para participar num sorteio.
Mas a atenção da maioria era genuína. As experiências, interessantes e audaciosas, também ajudavam. No pavilhão de Química, a banca de gastronomia molecular era um sucesso. Porquê? Dava gelados. Morango e azoto líquido eram os ingredientes, «além de natas e um frasco de compota», explica Daniel Luís, aluno do 3.º ano de Bioquímica, voluntário pela primeira vez. Ao lado, na banca do Restauro, Hugo Velhinho entretém-se a pintar um decalque com pigmento laranja, que misturou com goma arábica. Filho de uma professora daquela faculdade, Hugo acha que «esta iniciativa ajuda os alunos do 12.º a escolherem melhor». João Castro Fernandes, aluno do 9.º ano do Colégio de Santa Maria, em Lisboa, gostou muito da «experiência do ADN, no departamento de Ciências da Vida, que fluorescia no escuro», e de «ver o cérebro de um rato ao microscópio». Aos 14, já sabe que quer «seguir Economia».
Há dois anos que a iniciativa da Expo FCT existe, explica João Sotomayor, o coordenador do evento, que tem ganho adeptos de ano para ano, (o que também se traduz em mais inscrições nos cursos). O director da faculdade, Fernando Santana, vê a iniciativa como uma espécie de serviço público: «Temos a obrigação de mostrar a nossa oferta aos alunos do pré-universitário, para que possam optar em consciência e com conhecimento de causa», ressalva. Este é sem dúvida um bom exemplo de ligação entre o mundo do secundário e o universitário, como deveria haver entre o universitário e o mercado de trabalho. E quando algumas das áreas têm ainda pleno emprego - Engenharia Informática, Civil, Electrotecnia, Engenharia Mecânica ou Engenharia Ambiente -, é necessário formar esses activos.
Lá fora, sentados na relva a almoçar, ao sol, os alunos convivem alegremente. Uma turma de Lagos está agrupada frente a um bar. São alunos de Ciências, de 16, 17 anos, que arrancaram do Algarve às 5h30 para aqui estar, acompanhados pelos professores de Ciências. Ivone e Sofia gostaram particularmente da «experiência do bio-diesel», no pavilhão de Ecologia e da Hidrosfera. À sombra de uma árvore, está outro grupo, de Vendas Novas, do 11.º ano de Ciências. Rute, Carmen, Pedro, Paulo, Jorge, Ana Rita, José, Ricardo e Michel elegem «a experiência da água, para ver o Ph», no departamento de Ciências e da Terra. «Estas iniciativas são boas porque muitas vezes os alunos do secundário não têm ideia de como é uma universidade», diz Paulo. No pavilhão de Física, um grupo só de rapazes observa o «comboio que flutua». É outra vez o nitrogénio a fazer das suas. A -196.ºC, é introduzido num comboio em miniatura (um supercondutor), arrefecendo-o, e isso faz com que, ao passar por cima de um rail de magnetos, não haja contacto, mas haja movimento. O comboio anda «no ar», a exemplo de um verdadeiro que funciona no Japão. João Bruno, aluno do 12.º ano da Escola Rainha D. Leonor, em Lisboa, segue a experiência com atenção. A frequentar a área de Ciências, já decidiu: vai «para o ISCTE, para Engenharia Informática e Telecomunicações».
Entretanto, no anfiteatro de Química, começou, a sessão da tarde do «Quem Quer Ser Químico?», versão em tudo semelhante ao concurso televisivo «Quem Quer Ser Milionário?». Telma, aluna do 10.º ano, responde a perguntas com diferentes graus de dificuldade - de cultura geral, 9.º ano, 12.º ano, de faculdade ou até mestrado. À porta do departamento de Engenharia Ambiente perfilam-se vários blocos de lixo prensado. Lá dentro, os alunos fazem fila para andar de bicicleta e verem o seu esforço nos pedais transformar-se em energia... eléctrica, eólica, ou das ondas. Mas o verdadeiro «bestseller» está no departamento de Informática: de hora a hora, faz-se fila para jogar o «Pong» - versão do primeiro jogo informático inventado, em 1972, pela Hatari -, onde os alunos são os verdadeiros agentes do jogo. Cada grupo é uma barra, que move uma bola. E de cada vez que se marca um ponto... a sala vem abaixo.



Reportagem de Katya Delimbeuf, fotografias de Luiz Carvalho

 

     

 

NO PAVILHÃO de Química, a banca de gastronomia molecular ensinava a fazer gelados com nitrogénio líquido



ASPECTO do interior dos pavilhões onde os alunos da Faculade demonstram experiências aos mais novos, que se revelam muito interessados

NO DEPARTAMENTO de Engenharia do Ambiente, pedala-se para produzir energia